a crise está em mim. a crise sou eu.










Tuesday, December 29, 2009

Sunday, December 27, 2009

Saturday, December 26, 2009

Wednesday, December 23, 2009

Tuesday, December 22, 2009

december

















Dezembro está a passar ao largo, puxado por debaixo dos meus pés.

derrete de imediato, não como a neve serena lá fora.
escorre veloz, mais do que a chuva triste lá fora.
chove cadente cá dentro
para se perder no ralo da cidade-pérola lá fora.

são milhares de medos-cúbicos.

regariam pinheiros, não estivessem eles mortos e trasladados em salas de jantar embaciadas.
o natal acontece num glaciar longínquo.
há praias que vêem gaivotas caírem mortas na areia.
os pinhais celebram as tardes fúnebres.
ausência, presença. restícios.
hectares de raízes cortadas e desenterradas, repetidamente.

cepos. pinhas. lareiras.
roupa a secar. tachos ao lume.
mantas. sofás. filhoses.

frieiras nas mãos. gelo no sangue.
cristais sublimes.

pele. carne. queimadura.

Monday, December 21, 2009

Sunday, December 20, 2009

bite. island. sword

















há um buraco em mim que está vazio de Nelson.
nesse pedaço não sou eu, não está lá ninguém.

Saturday, December 19, 2009

Friday, December 18, 2009

Thursday, December 17, 2009

de luto


Budapeste deixou de ser virgem.

nesta hora em claro, um minuto de silêncio.

/forward to

















por mais que alguém pense que conhecer-me é suficiente para compreender o que digo não está a leste: está na outra face impossível da lua, a anos-sombra de mim.

Wednesday, December 16, 2009

Santa Claus, here's my list


uma venda nos olhos de uma mão macia feminina com um toque de alma numa noite de frio. e um beijo ao adormecer, já que é natal.

Tuesday, December 15, 2009

Monday, December 14, 2009

Sunday, December 13, 2009

Saturday, December 12, 2009

Friday, December 11, 2009

ontem fui avisado para não ser arquitecto





















onze da noite de quarta-feira dia nove de Dezembro. vim sozinho ao Tuzrakter. não quis ligar-te, quis ter a sorte de te descobrir por acaso num sofá qualquer destes. dei a volta à sala. nem sinal de ti. vim até ao páteo, sentei-me, puxei do diário gráfico, peguei na caneta. vou ver se te encontro aqui, num traço negro de zero vírgula dois milímetros. porque não? ou a mim, também dava jeito encontrar-me hoje.

sinto um toque nas costas, viro-me, e um homem com os seus sessenta bem vividos fala-me algo em magyar. atiro um “only english” com esperança de voltar ao meu monólogo tranquilo, mas sou surpreendido com a resposta british de um húngaro a viver em Bristol. a conversa escorre de uma figura corpulenta e grisalha, empática e consistente. começa por adivinhar a minha recente chegada há três meses. (como é que sabe que eu não estou aqui só de passagem?). de Portugal conhece a revolução dos cravos, o Soares, o futebol, o poeta Pessoa. nunca cruzou a fronteira porém. diz que era reaccionário com a minha idade. conta-me a lição do goulash. um casal tenta sobreviver em comunhão numa época difícil, e com os alimentos disponíveis a mulher prepara as refeições. faz um goulash. ao fim de uma semana continua a fazer goulash e o marido questiona a falta de alternativas. a mulher responde que pega nos alimentos com a intenção de fazer outra coisa mas, inexplicavelmente, acaba sempre por sair goulash. há um tom esquisito com que ele pausa a conversa. uma contracção estranha de gestos que parece suster uma lagoa de emoções. os olhos brilham e evitam comovidos um eventual reconhecimento qualquer. ele fala de forças. da poesia, da arte, do mundo. dirige um role heterogéneo de actores, faz teatro apartir da colisão entre profissionais, estudantes e amadores. escolhe palcos temperados pela natureza. Leningrado, Paris, Marrocos. tudo nele transparece uma verdade de coisas invisíveis. uma convicção no poder de sentir e apeender a vida. uma energia inominável, indomável e liquefeita. citou versos, parafraseou pinturas. ele também desenhava. ele tem a vontade de criar coisas em trezentos e sessenta graus. prolongar o conhecimento imediato de uma coisa através de uma visão global dessa coisa, descobrir a essência e fixá-la num sumário espacial completo. orgânico. noto-lhe uma inquietude por ainda não ter inventado uma maneira de o materializar, de o mostrar às pessoas. ele insiste nessa coisa inexplicável e disforme, que se forma continuamente e nos permite moldar-nos a nós próprios e completarmo-nos. é a perseguição da vida dele. de jovem revolucionário a sexagenário comedido, mas sábio. humilde como é regra. confidenciou-me que no final damos de caras sempre com o mesmo goulash, é o desânimo de seis décadas numa sociedade humana promissora.

desabafou a sensação das oportunidades reais, escassas, que o espera, e a mágoa de um filho que não conhece e não vê. limpou o meu caminho longo e largo das pedras que antecipo. fez-me evocar os meus pais. de repente o dilema da vida tornava-se meu. a minha identidade ascendente legitimava o serão. e a vida dele era um enorme aviso em reflexos neste charco de luz de dezembro. perguntou o que eu estudava. “arquitectura”, disse. ele continuou. “não, o que é que andas mesmo a estudar?”.

hei-de deixar esta terra de poetas a saber responder a isso.

Thursday, December 10, 2009

Wednesday, December 09, 2009

Tuesday, December 08, 2009

away





















sabe bem procurar asilo sozinho nesta pista de electro. encher a cabeça de barulho inaudível. ocupar a cabeça. ser espancado mentalmente sem ter noção da sobriedade ou do pensamento. ser esmurrado nunca soube tão bem. poderia adormecer aqui, no meio desta brutalidade e intensidade. há finalmente um conforto completo esta noite.

Monday, December 07, 2009

Tuesday, December 01, 2009

homeless


a solidão tem fama mas é a solitude que mais fode.


Thursday, November 26, 2009

Sunday, November 22, 2009

Friday, November 20, 2009

5:00 a.m.

tenho pensado na vontade

se a conheço

se reconheço o seu jeito ou se me lembro da sua voz

é uma confusão, porque tenho sérias dúvidas se a penso no coração ou se a sinto na cabeça

nem sei onde mora, portanto

não sei como procurá-la

há o velho comodista estóico e passivo sentado no sofá da racionalidade e a criança ávida sonhadora e criativa empoleirada no coração

falta o pai desta criança que é o filho daquele velho

estrutura

é por isso que o adulto que há em mim tem-se fodido em pleno

porque fugiu de casa

deixou-me órfão e isolado na idade de me fazer homem

a vontade é a puta força que canta para toda a gente e não me diz olá quando acordo

quando estou na fila das compras

quando vou no metro

quando nos cruzamos na rua

Monday, November 16, 2009

look out

Vim à procura de errar. Dou por mim no maior erro que poderia ter encontrado. O que, segundo essa perspectiva, é capaz de até não ser mau.

Wednesday, November 11, 2009

Saturday, November 07, 2009

6:00 a.m.

O sol nunca mais nasce.

O tempo escapou. A atmosfera humedecida e a madrugada ensonada. O silêncio que separa a noite do dia. A longa procura da luz. O momento certo para ver o sol erguer-se aos pés do rio. Descobrir o nascer do dia suspenso sobre o Danúbio. Atravessar a ponte Margarit rompendo o nevoeiro. Esfriando a solidão. Aguardando raios de calor. A água saturava o ar. O cheiro era fresco. A noite afogou-se.

O sol não nasceu.




Friday, November 06, 2009

Thursday, November 05, 2009

a twenty-four hours and forty-seven minutes day

levanto-me às 5.00h para cuspir emoções numa folha branca.

saio para o dia e para a rua.

chego às 5.47h da madrugada seguinte a cuspir saliva e vestígios de alcool.

hei-de regular o meu norte.

Wednesday, November 04, 2009

dream written

faziam falta palavras.





















Sonhei contigo querida pétala. Estavas aqui. Nesta cidade longe. Cruzámo-nos de repente, e cruzámo-nos bem. Tinha sido necessária esta distância toda de quilómetros de palavras e de olhares para nos encontrarmos com sincronia.
Estavas devastada, além de bela. Tenho a impressão que se sabia do encantamento que eu sentia por ti: estava espalhado pelo ar à minha volta. Estávamos num bar qualquer destes que têm o charme de serem bares por acaso mas que têm toda a naturalidade para o ser, ora feridos e crus, ora pintados e acolhedores.
Antes disso, estava num prédio destes que têm o exotismo de serem diferentes dos de Lisboa. Lembro-me que ia a sair e aconteceu um terramoto no preciso instante em que me preparava para entrar no elevador. O mundo abanou durante bastante tempo, com bastante intensidade, e os edifícios racharam de alto a baixo. É engraçado este preciso fenómeno, a meio de um sonho, usando a imprevisibilidade na vida real como desculpa também na minha criatividade mental. Como se tentasse ser subtil ao dizer-me qualquer coisa ao subconsciente. ( - Sou uma ruína de mim próprio, eu sei. Deixa-me continuar o sonho em que me erguia dos escombros e ia ter com a mulher da minha vida. Ora a mulher dos meus sonhos.)
Estavas bela, além de devastada. Tinha ruído uma parte em ti também e estavas assustada. Contavas-me a tua história em voz alta mas eu sentia-a nos teus olhos, passei a noite a olhar e a lembrar os teus olhos. O castanho é o mesmo e os reflexos não mudaram. Sei-os de core mas descubro de cada vez que te olho que te amo e os anos vão passando. Estavas com o casaco espesso branco e quente, e eu abraçava-te e tentava sentir o teu corpo. Estancava as tuas lágrimas e continuava a procurar o teu corpo. Tu acabaste por encontrar os meus lábios. ficámos mais perto um do outro. E quase sozinhos, não fossem os fantasmas que me assombram ruína. Hei-de amar-te até me destruírem, flor. Hei-de amar-te até ao chão.

Tuesday, November 03, 2009

Monday, November 02, 2009

Sunday, November 01, 2009

Wednesday, October 21, 2009

Monday, October 19, 2009

Monday, October 12, 2009

Saturday, October 10, 2009

Friday, October 09, 2009

coisas pós-impressionistas
















a balança de um artista pende segundo a proporcionalidade inversa entre o seu talento e a sua felicidade. mas esta relação de proporção é unívoca, é função do que ele faz para o que ele é. é esta a maneira que eu encontro para justificar uma confidência - que me desejou menos talento se necessário para poder ser mais feliz.
eu devo ser louco, verdadeiramente. no sentido assintomático do conceito mas de modo etimologicamente crónico sofro de uma incapacidade de auto-compreensão humana. compreensão essencial, corriqueiramente identitária. é simplesmente isso: a inversão louca de um objectivo maior, a inversão louca da felicidade pelo talento, pela criação. a prioridade é a arte porque através dela eu também vivo. faz tudo parte da mesma vivênca. é uma maneira de viver o próprio acto de pintar. e sem nunca me ter imaginado escultor, acabei por moldar sem querer a minha mais espôntanea obra:

uma enorme pedra na consciência.
uma massa estranha e espessa na minha própria alma.
um cancro denso e difícil que estorva a vida feliz.

Wednesday, October 07, 2009

Tuesday, October 06, 2009